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Ona Musha

por Menegheti - SP/São Paulo TAT - 04-Oct-2007

O heroísmo não é uma qualidade exclusiva do homem na cultura japonesa. As lendas e até mesmo a história do Japão, revelaram muitas heroínas. Pode-se duvidar da veracidade dos fatos na integra, mas não se pode duvidar do seu heroísmo.Um grande exemplo é a mulher de Yamato Takeru, que se portou como uma heroína ao lado de seu marido. Ela se chamava Ototachibana, acompanhou o marido na maior parte das expedições e, finalmente, entregou-se à mercê dos deuses do mar a fim de parar a tempestade que ameaçava o navio dele.


Maria Fernanda Menegheti

Sete dias mais tarde, encontrou-se o pente de Ototachibana na praia. Yamato Takeru mandou que se fizesse um túmulo para o pente. No regresso para a região ocidental de Honshu, lamentou-se dizendo: "Adzuma wa ya", que significa "Que pena, minha esposa". Assim a região oriental de Honshu ficou conhecida pelo nome de Adzuma.

A filha de Kiyomon, a mãe do imperador-menino Antoku, também preferiu, durante a batalha de Dannoura (a batalha final que deu ao clan Minamoto o primeiro shogunato no Japão), atirar-se ao mar com o filho nos braços do que deixá-lo cair nas mãos dos Minamotos.

Outra heroína, Kesa Gozen, viveu durante o século XII, era nova, bonita e casada. Vivia na casa da mãe com o marido. Numa ocasião o primo de Kesa Gozen, com pouco menos de vinte anos, apaixonou-se violentamente por ela. Kesa Gozen repeliu as tentativas do rapaz e continuou fiel ao marido, cujos deveres o levaram frequentemente a ausentar-se de casa. O jovem ainda tentou ganhar os favores de Kesa Gozen através da mãe dela, ameaçando a vida da velha senhora.

Kesa Gozen temia tanto pela segurança da mãe que se decidiu a prometer ao primo que dormiria com ele, mas só se o marido morresse nas mãos do rapaz. Na noite em que se supunha que ele regressava, Kesa Gozen deitou-se no lugar do marido. O rapaz esgueirou-se para dentro do quarto, mas a mulher não se mexeu. Sabia exatamente o que a esperava. O primo apunhalou-a e pela sua morte, ela salvou a mãe, o marido e a própria honra. O jovem primo ficou tão horrorizado com o que tinha feito que desistiu de todos os prazeres humanos e entrou para um mosteiro. Esta vida assentou-lhe bem, pois morreu santo, conhecido como Mongaku Shonin

Mas para mim a melhor guerreira de todos os tempos no Japão feudal foi Tomoe Gozen

No Japão feudal no 12º século, a sociedade do samurai estava em seu apogeu. Embora sociedade samurai fosse dominada por homens, foram treinadas algumas mulheres nos clãs em artes marciais, Tomoe Gozen era a esposa de Minamoto Yoshinaka, um samurai em guerra com Minamoto Yoshitsune.
Na Heike Monogatari , Tomoe Gozen aparece como uma general das tropas de Kiso Yoshinaka, primeira força de ataque de Yoritomo. Ela era descrita da seguinte maneira:
Tomoe era especialmente bonita, com pele branca, cabelos longos e feições charmosas. Era também uma arqueira admirável, e como espadachim era valiosa, preparada para confrontar um demônio ou um deus, montada ou a pé. Ela agüentava estar a cavalo continuamente com excelente habilidade; ela cavalgava ilesa por descidas arriscadas. Quando uma batalha era iminente, Yoshinaka a enviava como primeiro capitão, equipada com uma forte armadura, uma longa espada e com um imponente arco e flecha; e realizou mais feitos valorosos do que qualquer guerreiro dele.

Ao lutar no Rio Uji, ela o apoiou na derradeira batalha. Quando era óbvio que eles seriam derrotados, Yoshinaka e seus poucos guerreiros restantes, fizeram um ataque desesperado contra os samurais de Yoshitsune. Tomoe Gozen teimou em permanecer para enfrentar derrota com seu marido, gritava a plenos pulmões, "eu quero lutar a última batalha gloriosa a seu lado mesmo a custa de minha vida." Os registros de Heike Monogatori dizem que, mesmo ela diante de um exército poderoso, se arremessou como um raio, lutando como um furacão ela enfrentava praticamente sozinha o exército inimigo. Ela falou para o marido que ira atrasar o inimigo o tempo suficiente para ele cometer seppuku, ritual de suicídio na derrota, mas ele foi golpeado por uma flecha antes de conseguir se matar. O destino de Tomoe Gozen depois que a batalha não é conhecida. Existem lendas que dizem que ela foi morta e outras que afirmam que ela sobreviveu e se tornou uma monja budista. Existe também a lenda que conta que ela foi capturada por Wada Yoshimori como prisioneira e teve u filho chamado Asahina, considerado o mais forte guerreiro do final da era Kamakura., mas a lenda de que mais gosto é que após ela ter avançado sobre as forças inimigas e, se atirando sobre o mais forte guerreiro deles, desmontou, prendeu e decapitou-o, encontrou seu marido morto, cortou-lhe a cabeça subiu em seu cavalo e galopou em direção ao mar, para que seu marido morresse com honra.
A existência de Tomoe nunca pode ser comprovada historicamente. Diversos estilos de Naginata atribuem sua criação a ela, apesar de não haver como comprová-lo. Soma-se a isto o fato de Tomoe ser de uma época anterior ao inicio dos estilos formalizados, originados a partir do século XIII.

Outra mulher muito famosa é Hangaku Gozen, filha de uma família da província de Echigo. Era famosa pela técnica apurada em arco e flecha. Em 1201, após o governo feudal tentar subjugar um de seus sobrinhos, os guerreiros de Echigo e Shinano se revoltaram. Sitiada no castelo de Tossaka, ela atirou um inimigo do telhado de um armazém. Após ter sido atingida em ambas as pernas por flechas e lanças, ela foi tomada prisioneira e oferecida ao Shogun Yoriie. Atraído pela beleza e dignidade dela, Yoshito Asari do Kai Genji a cortejou e se casaram. A história não conta se essa união foi forçada ou não. De acordo com uma descrição, ela foi morta quando auxiliava na defesa do castelo Torizakayama.
Assim, ao menos nos períodos como Heian e Kamakura, as mulheres que se tornaram proeminentes e até presentes nos campos de batalha foram mais exceções do que uma regra. Isso não indica, no entanto, que as outras mulheres eram menos poderosas. Existe uma imagem comum da feminilidade japonesa baseada nas descrições que se tem da corte imperial, preocupada com poesia, sob costumes rigorosos. Porém essa imagem obscurece que foram as onna-bushi na ascendência de suas classes. Elas foram originalmente pioneiras, ajudando na conquistas de novas terras e lutando se necessário. Alguns clãs foram inclusive liderados por mulheres. Isso pode ser concluído pelo direito legal dado a mulheres de possuir função de jito, cargo que supervisionava terras mantidas in absentia por nobres e templos.
As mulheres guerreiras eram treinadas, em sua maioria, com naginata devido à versatilidade dessa arma contra todos os tipos de inimigos e armas. Em geral era mais de responsabilidade da mulher a proteção da casa do que ir para batalhas, portanto, era importante que ela possuísse habilidades com algumas armas que oferecessem um leque de técnicas de defesa contra saqueadores a cavalos. Além do mais, parece apropriado para mulheres a preferência na utilização de arco e flechas para distâncias longas e armas longas para confronto a curta distância quando o inimigo estava a cavalo.
A partir do décimo século no Japão não se pode dizer este país teve paz, mas em 1476, o país sucumbiu ao caos no que ficou conhecido como Sengoku Jidai (período dos Estados de Guerra). Foi uma época em que todas as classes sociais foram levadas a guerrear. Os domínios feudais acabavam por requisitar todos os homens saudáveis, que se apelidavam nobushi - mercenários que, ou se destacavam no exército ou eram massacrados nos campos de batalha. Como resultado dessa luta desenfreada, as mulheres eram o que praticamente restava para a defesa de cidades e castelos.
Nesse período muitos foram os relatos de esposas de lordes de guerra, vestidas em armaduras, liderando bandos de mulheres armadas com naginata. Em uma das descrições no Bichi Hyoranki, por exemplo, a esposa de Mimura Kotoku, atemorizada pelo suicídio em massa de mulheres e crianças sobreviventes sitiadas no castelo de seu marido, armou-se e liderou uma tropa de oitenta e três soldados contra o inimigo circungirando sua naginata com força e destreza. Ela desafiou um general montado, Ura Hyobu, mas este se recusou a lutar, alegando que a mulher estava a pé como oponentes a verdadeiros guerreiros. Ele saiu em retaguarda em covardia dizendo que ela seria um demônio. Ela recusou se retirar, mas quando os soldados a atacaram, ela escapou e voltou a seu castelo.
Foi provavelmente nesse período em que as mulheres que lutavam com naginata emergiram. Entretanto, como Yazama Isao, décima sexta geração de dirigente do Toda-ha Buko-ryu, escreveu em 1916, a arma que as mulheres mais utilizavam nesses tempos horríveis não era a naginata, mas a kaiken, que a bushi carregava todo o tempo. Não era esperado de uma mulher que lutasse com sua adaga. Ao invés disso, era requerido dela o suicídio na maneira tradicional feminina, conhecida como jigai, cuja morte era relativamente rápida e não ofendia a dignidade da mulher. A adaga era usada para cortar a jugular.
A mulher não treinou utilizar a adaga com técnicas sofisticadas de combate. Caso fosse forçada a lutar, ela deveria segurar a adaga com as duas mãos na altura do estômago e correr contra o inimigo com toda sua força, transformando-se numa lança viva. Supostamente, ela não deveria desafiar o inimigo, ela deveria achar um meio de pegá-lo desprevenido. Caso ela fosse capturada viva, mesmo após matar inúmeros inimigos, ela seria estuprada, disposta como prisioneira e desonrada. Assim, a única saída para evitar que seu nome caísse em desgraça era se matar com as próprias mãos.
Uma conclusão mais sua, de preferência que remeta ao treinamento de hoje, no niten.
Diante de tantas mulheres que lutaram, mesmo que fosse para defender ao menos um pedacinho de chão em que viviam, podemos nos inspirar em suas “histórias” ou “Lendas”.
Nos dias de hoje, assistimos a filmes, em sua grande maioria de kung fu, com a participação das mulheres, filmes como kill bill, inspiraram muitas à pratica de artes marciais inclusive aos dos antigos samurais, podemos também observar mulheres, nas artes de combate, com ou sem armas, em demonstrações pelo mundo todo e até mesmo em campeonatos.
Podemos tirar algum proveito disso? É claro, hoje em dia a mulher tem espaço nas artes marciais, inclusive nas artes samurais, que antigamente era exclusividade dos homens. Na sociedade atual as mulheres tem uma liberdade maior de pensamento e ação que jamais tivemos, porém é errado pensar que as mulheres podem ultrapassar os homens, mas podem sim, igualar diferenças.
Como diria o Sensei “nasci no momento certo e no lugar certo”, pois se tivesse nascido em outra época e em outro lugar talvez não pudesse praticar artes marciais.
Há muito tempo queria voltar a praticar algum tipo de arte marcial, já havia feito judô na adolescência e descobri o kenjutsu e logo me apaixonei.
Não é fácil deixar a família, o trabalho e os problemas para traz e ir treinar toda semana, mas mesmo assim estou lá, firme e forte, pronta pra o combate, não há adversário que eu não encare, mesmo estando com medo. Vocês devem estar perguntando: “Medo? Porque medo se encara qualquer um?” Medo sim, imagine encarar um sempai, diga-se de passagem é um dos melhores, que é maior do que eu, mais forte do que eu, não acertar nenhum golpe e terminar a luta somente cansada e continuar em pé, só enfrentado o medo mesmo, e só assim vou conseguir conquistar a coragem.
Quantas mulheres assim como eu advogadas, outras médicas, veterinárias, designers, estudantes etc, deixam seus lares e empregos para irem treinar, ter o seu momento de combate, quantas enfrentam seu medo, mas todas com o mesmo objetivo estarem prontas para a guerra, já que a vida é uma guerra não é um mar de rosas.
Aprender os katas do bushido também não é nada fácil, estar acostuma a viver de um jeito e de repente ter que mudar certas peculiaridades do cotidiano.

A grande maioria das pessoas que procuraram o niten desde que entrei aqui, não só as mulheres, dizem que estão procurando disciplina até eu estava, mas encontrei muito mais que isso. Encontrei amigos, mentores que me ajudam a trilhar o caminho da espada, encontrei a coragem que precisava para enfrentar certos caminhos da vida na sociedade, o importante é nunca deixar de aprender, nesta vida estamos em constante aprendizado.

O que posso dizer de coração é que a mulher pode ao mesmo tempo, ter a delicadeza e a leveza de uma gueixa e ser forte e corajosa guerreira como um samurai, e os homens que me desculpem, mas não existe ser no mundo que enfrente tantas guerras e ainda sim continuar em pé e tocar sua vida com tanto vigor.

Tags: Relatos,
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Eva - Unidade BEHMe espelho muito nas sempais mulheres e estou adorando ver o aumento da força feminina nos dojôs do Niten.
Domo Arigato Gozaimashitá, Sempai Maria Fernanda, por servir de inspiração e dedicar seu tempo relatando estas histórias/lendas para nós!

Ulisses - FrancaOhaiô Sensei!

Recebi o sétimo kiu essa semana, e neste momento me lembrei de uma passagem do Shin Hagakure que diz que nao conseguimos nada sozinhos.
Agradeço ao sempais, aos colegas de treino, e especialmente ao Sensei, que nos revela o caminho da espada... que dá vida!

Arigato gozaimashitá



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